segunda-feira, 18 de julho de 2011

E a verdadeira legião urbana são... vocês.

Os sonhos vêm e os sonhos vão e o resto é imperfeito...

Tudo que eu vivo acordado, às vezes me parece tão insuficiente que me deprime. Na cabeça, no sonho, no mundo imaginário, tudo se encaixa perfeitamente. Aqui fora não, é tudo imperfeito. As peças se encaixam na força.

No mundo real nem as vidas valem mais alguma coisa...

E há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade...

Acordo numa segunda-feira que deveria ser normal, era só mais uma segunda... chego ao trabalho, me deixo levar pelo estresse característico dos erros cometidos.

Penso em desistir de tudo por um segundo e sou abordado por alguém com mais anos de vida do que eu e que não admite minha cabeça baixa perante a vida.

Algumas pessoas tem em sua história as marcas que respondem e motivam. São macas que parecem feridas na pele... São pessoas que não tiveram sorte. São seres humanos esquecidos pelas pesquisas que precisaram sobreviver. São aqueles que não esperaram nada da vida, apenas tiraram dela tudo que podiam, afinal nada lhes foi dado.

Só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção...

A humanidade passa pela vida manchando com seus erros a própria história que escreve. É como uma caneta defeituosa que borra a escrita, e a religião é a mão que tenta consertar mas que acaba por espalhar a tinta no papel e fazer um borrão do que deveria ser uma palavra.

E enquanto isso, na enfermaria todos os doentes estão cantando sucessos populares.
(e todos os índios foram mortos).


Ainda vivendo a minha segunda-feira perco a manhã e ganho o horror. Ruas fechadas para que a violência possa passar. Carruagens negras correm com fogo e sob fogo.


Em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel. Sempre mais do mesmo.

Você busca memórias felizes, busca esperança no passado. Eu, nessa segunda, achei terror. Achei na memória aquela dia em que aquela pessoa que me ajudou a entrar no mundo contou o que uma criança fazia. Lembrei desse dia em que chorei sozinho, escondido, por ter descoberto que crianças também matam. E que quem mata, mata qualquer um, inclusive quem você ama.

Quem me dera ao menos uma vez explicar o que ninguém consegue entender...

Continuei a vagar por aquela segunda que teimava em tirar de mim o pior que eu poderia ser. Que teimava e me mostrar o pior que as coisas podem ser. Tudo é imagem, todos querem mais.

Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante, mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.



Entrei em transe. Entrei no transito. Foi como aquelas cenas de filme, onde o som principal passa a ser o som do cenário. As buzinas, crianças, cães, humanos e suas maquinas...

Não há mais mentiras nem verdades aqui só há música urbana.

E um guarda apita, o transito anda. Ao fundo, competindo com o som do caos do transito está o som das balas.

...música urbana...

Alguém pede dinheiro.

...música urbana...

O transito anda. Pára. Anda. Alguém me dá a palavra do Senhor. Alguém tenta me convencer, no engarrafamento, que devo acreditar num senhor, nas palavras de um livro, um livro que ela não sabe ler, um livro que foi interpretado por alguém que se diz sacerdote. Aquela ovelha ali, que cantava pra mim, atrapalhou o transito.

...música urbana...

E finalmente andei, cheguei na explicação pro transito ruim: Um corpo.
Crianças morrem. Crianças são atropeladas. Mães lamentam, se desesperam, tem seu coração destruído. Mães caem sobre o corpo dos filhos mortos e exalam dor. Mas a dor, assim como a morte, faz parte da vida.

Tentei chorar e não consegui.

Continuei. No transito livre as rodas levam a toda velocidade pessoas. Pessoas e seus barulhos. Pessoas que passam e nem vêem você. Você, ali no meio da multidão, é nada. Não gosto de multidões. Não gosto de não ser percebido. Não gosto de não perceber.

Sempre precisei de um pouco de atenção, acho que não sei quem sou só sei do que não gosto.


O tempo começou a fechar. Talvez chova... Talvez não. Nuvens ficam vermelhas agora e o vento é frio. O sol continua ali, mas a temperatura cai muito rápido.

E destes dias tão estranhos fica a poeira se escondendo pelos cantos

Nostalgia é um remédio. É daqueles que são amargos e nem parecem que fazem bem, mas que salvam sua vida nos momentos difíceis. Um apanhado de memórias me manteve vivo.

Quero voar pra bem longe, mas hoje não dá, não sei o que pensar e nem o que dizer