domingo, 29 de maio de 2011

Don't panic

O trabalho estressa um pouco as pessoas. Principalmente os trabalhadores.

Naquele dia o tempo estava bom, o céu estava claro, quase não ventava e não estava exatamente quente, mas a temperatura que andava baixa estava mais alta. Mas repito, não estava quente. Eu, por exemplo, estava usando camiseta e calça jeans, andando de um lado para o outro e mesmo assim não suava. Isso é importante para a nossa história.

O dia de trabalho começou bem cedo. Tudo normal. Até a hora do castelo.

Me refiro a um castelo de água. Sabe, aquilo que parece um caixa d'água gigante?

A água, geralmente, chega ao condominio, fábrica e etc e vai direto para cisterna, de lá uma bomba joga essa água até um reservatório alto, mais alto que as caixas d'água, de onde será feita a distribuição. Um castelo é como um estação elevada.

Enfim, resumindo: Castelo é um lugar alto pra caramba!

Entendeu? Então vamos voltar a minha história.

Meu trabalho, entre outras coisas, era medir e fotografar um condomínio a se reformar. O Castelo do condominio também precisava ser medido e fotografado. Evidentemente.

Então, chegou a vez dele. Para chegar ao castelo nós precisavamos ir até o telhado de um dos prédios do condominio, 5 andares do chão, e lá subir por um escadinha feita com ferros.

Ok, comecei a subir.

Na subida me dei conta do quão alto eu estava e percebi, assim de uma hora para a outra, que não possuo asas.

Uma escorregada, um vento mais forte ou um leve desmaio me mataria.

Foi ali, naquela escada, que conheci o pânico.

Minhas pernas tremiam e minha mão suava. Mas eu não tinha escolha, só havia dois caminhos: Pra cima, ou a morte lá em baixo.

Dei a mão ao pânico subi. Pois naquele momento eu achei que o pânico era melhor que a morte... Depois eu repensei isso.

Cheguei lá em cima e tive um daqueles momentos dramáticos da vida.

Eu não conseguia ficar em pé no castelo. Minha perna tremia e minha mão suava. Meu coração não seguia uma sequencia lógica, não que eu me importe com sequencias lógicas, pra mim só de ele ainda estar batendo já era um alivio, meu pulmão por exemplo, esqueceu de funcionar, me vi ali, sem respirar... Parado.

Engraçado é que nessas horas as pessoas dizem que pensam em tudo e todos. Eu não, simplesmente não via nada na minha cabeça, só um desejo absurdo de estar no chão.

Não pensei na minha familia nem no meu amor. Só pensei no chão. No chão e na morte.

No chão. Na morte. E na escada.

Eu precisava descer, mas a escada parecia tão longe. Minhas pernas não mais me obedeciam.

Aliás, acho que nada mais me obedecia.

Meu pulmão, lembram dele? Ainda estava esquisito. Ele puxava o ar tão devagar que era quase imperceptível. Acho que ele tinha medo de puxar ar de mais e com isso eu perder o equilíbrio.

Equilibrio aliás que não subiu comigo. Ele ficou lá embaixo, onde era seguro.

Muito esperto.

Usei então minha ultima pastilha de coragem.

Caminhei até a escada e me agarrei nela pensando: VOU SOBREVIVER!

Comecei a descer.

Enquanto descia pensava.

Não, ainda não era na familia, no amor ou em poesias. Eu só pensava em coisas como a coragem.

A coragem é um medo disfarçado.

Existe o medo que te trava e existe o medo que te faz se mover. A este ultimo alguém denominou coragem.

Cheguei no telhado.

Aí sim pensei na familia, amor e até lembrei de uma poesia.

Mas foi coisa rápida. Não queria perder tempo pensando, corri pra um lugar seguro e sentei.

O mundo ainda estava girando.

Sabem labirintite?

Pois é, eu tenho.

Eu estava com vontade de vomitar.

Minhas mãos estavam molhadas ainda, mas meu pulmão voltou a funcionar.

Ele tentava compensar o tempo que ficou em pane e tentava sugar todo o ar ao redor. Minha respiração fazia barulho. Minha cabeça latejava. Cada batida do meu coração era como uma martelada na minha cabeça.

Eu pensei em rir. Mas não consegui.

Pensei na minha casa.Mas estava em um telhado.

Pensei em ligar pra alguém, pra falar: "Opa! Tudo bem com você? Pois comigo não esta nada bem..."

Mas minha mãe estava sem telefone, minha namorada ia ter nojo por eu estar com vontade de vomitar e a maioria dos meus amigos não iria acreditar em mim.

Então continuei ali, sentado, pensando na vida.

Isso demorou alguns segundos... Aí voltei ao normal.

Desci do prédio e continuei meu trabalho. Em paz. E com a certeza de que nunca mais irei subir em um castelo.

Não sem estar amarrado.

domingo, 8 de maio de 2011

Um dia na vida de Leo Geraldo.

Eu abri meu armário e comecei a tentar organizá-lo. Nem lembro quando foi a ultima fez que tentei fazer isso... Aliás, nem fui eu o ultimo a fazer isso. Eu sou o tipo de cara que gosta das coisas arrumadas, sempre fui assim, até que de repente, parei de ser.

Simplesmente abro a porta do armário e jogo as coisas ali. E to falando sério.

Outro dia, não lembro bem quem, mas acho que foi minha namorada que pegou um livro no meu armário e eu não fazia idéia que ele estava ali. Quer dizer, caos.

Enfim, no meio da zona do meu armário eu vi que um dos meus perfumes tinha acabado. Eu tava de bobeira em casa e resolvi que era uma boa idéia pegar o carro e sair pra procurar um lugar pra comprar outro.

Fiz isso.

Entrei na loja como sempre faço, perdido e doido pra sair. Tenho um certo pânico de vendedores.

Olhei para as vitrines e uma moça simpática veio me atender.

“Posso ajudar?”

Não, querida. Não pode. Some daqui.

“Este daqui é um lançamento, o senhor quer experimentar?”

Ok, não vou me livrar de você, não é? Então vamos lá, vou entrar no seu jogo.

“Quero sim. Queria experimentar aquele ali também, pode ser?”

“Pode sim senhor! Ele também é ótimo”

Duvido.

“É, é bom mesmo.”

1 a zero você.

“Que tal este aqui?”

Ok, bom também, 2 a zero você. Mas ainda to no páreo.

“É, bom também.”

“E olha este, senhor, está com 20% de desconto!”

3 a zero você. Sua vaca!

“Hum, interessante...”

“E então senhor, gostou de algum?”

Você sabe que eu gostei. Pára de doce.

“Sim, mas ainda não sei qual levar... Esse é muito bom, mas tem aquele ali que também me agrada”

“Já sei!! Experimenta esse! Ele parece com aquele, mas tem um toque daquele outro... Tenho certeza que você vai adorar”

Aí ela me fez experimentar.

“Gostou? Se gostou, experimenta na pele pra ver como fica”

O fiz.

Aí, de repente, ela chega perto de mim e eu passo por aquele meio segundo de susto. Ela vai me dar uma narigada? É isso? Isso é tática de venda? Isso é normal??

Fiquei sem reação enquanto a vendedora me cheirava. Ok, ela fingiu me cheirar, ela já sabe o cheiro da parada, não precisava conferir. Ela só queria me deixar sem graça.

Conseguiu.

“Huumm é ótimo. O senhor não acha?”

“É...”

“Se o senhor não gostou, eu tenho aquele outro que também é bom... E tem aquele, mas ele é um pouco forte e...

“Não, não! Adorei esse... Pode embrulhar”

Preciso sair daqui. E rápido.

E né, eu realmente gostei.

Comprei o perfume e fui pra uma festinha no mesmo dia. Uma festinha de família.

Durante a socialzinha alguém me perguntou alguma coisa que me levou a dizer onde estive durante a tarde. E tendo posse da informação de que eu comprei um novo perfume, este alguém, que era na verdade uma das minhas muitas tias, resolveu usar tal informação para fazer o que minhas tias mais gostam de fazer... Me deixar sem graça na frente dos outros.

Agora, imagine você, eu no meio de uma festa ser o centro das atenções.

Odeio ser o centro das atenções.

Minhas tias, ao contrario, parecem adorar isso.

50% da festa estava ali, ao meu redor, cheirando meu pescoço e fazendo comentários sobre meu cheiro, minha faculdade, meu namoro, minhas roupas e até sobre meu óculos.

E isto meu caro, foi o maximo que se pode contar sobre meu fim de semana.

Lamentável.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Entrevista para nascer

"- Então esse é seu curriculo?
- Sim, senhor.
- Vejo aqui que você nao tem muita experiência...
- Pois é, senhor, fiz produzido hoje mesmo e...
- Tá, tá, isso não importa, visto que ninguém mais aqui tem experiência também. Não é o ideal né, mas vamos com o que temos mesmo. Vejamos aqui.... botafoguense, gosta de samba... serve pra ser brasileiro, beleza...agora, ser ateu pode ser um complicador... sua família vai ser muito religiosa.
- É, não me agrada muito também, mas eu tô disposto a tentar! Até porque eu não tenho muita escolha né?
- É, a gente pode dar um jeito nisso, mas o essencial mesmo é que você não tenha tendências homossexuais, senão é capaz de você sofrer humilhações familiares e o Cérebro tá tentando evitar isso, sabe?
- Não, eu tou programado pra ser hetero, pode ficar tranquilo.
- E quais são suas aspirações pós-vida?
- Ah, eu pretendo ser engenheiro civil, ter varios filhos e ganhar na Mega Sena.
- Muito bom, muito bom mesmo. Bem, já fiz minha escolha! Quando você pode começar?
- Olha seu Óvulo, antes de eu dizer qualquer coisa eu queria saber quais são os benefícios.
- Ah, sim, claro. Bem, leite materno até 2 anos de idade, com direito a fraldas ilimitadas, berço e musica de ninar. Se você for bem comportado ganhará doces e será mimado pelos familiares. Tudo isso com amor incondicional e carinho inclusos.
- Parece muito bom. Agora quanto ao inicio....
- Sim..?
- Eu preciso de 9 meses pra me desenvolver.
- NOVE?!
- Pois é, cara.. processo bem lento, tem que sair perfeito.
- Não, assim não dá. O chefe, o Cerebro,tá muito ansioso, ele precisa de alguém pra ontem!
- Mas você não encontra ninguem por menos de 8 meses!
- E por que você não se desenvolve em 8 ou até mesmo 7 também?
- Olha, não adianta entregar rápido e ficar uma droga. Tem que ficar bem feito, imagino se eu morro porque nasci prematuro, como o Cerébro não vai ficar abalado? Tem ser um troço bem combinado pra sair direito, põ.
- Tá bom, tá bom! Mas olha só, nada de chutar ou se espreguiçar na porra da barriga hein! A bexiga já veio me encher o saco falando que não vai aguentar trabalhar de hora em hora!
- Feito!
- Fechado então, amigo. Só aguarda um pouquinho pra eu dispensar o restante e você vai poder entrar.
- Uhul!"


Este texto, incluindo erros de digitação, é obra do excelentíssimo senhor Pedro Campos Ramos da Silva. Qualquer reclamação favor encaminhar a pqp.

Grato.